quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O coração dela

Ele (o coração) conta que, desde o dia que encontrou a sua "cara-metade", tremeu feito um celular no modo vibra-call. Como era muito amigo do cérebro, chegou para ele e disse: "Acho que encontrei! Pode ser o dela. Fica ligado!". O cérebro, como estava meio aéreo, desligado, disse: "O que? Hein? Fala novamente, não ouvi direito..."

O tempo passou, imagens e lembranças ficaram no coração até que, certo dia, eles voltaram a se encontrar. Novamente, o coração pode "ver" a sua cara-metade, no corpo da dona daquele coraçãozinho que ele adorou, e pelo qual vibrava toda vez que o "via". Desta vez ele foi firme e disse pro cérebro: "Acorda! Se liga! É ela mesmo!". E o cérebro respondeu: "Ela, quem???..." e o coração disse: "É ela! O coração dela é que me faz entrar no modo vibra-call, toda vez que a vejo. Não há outro coração, nem outro olhar igual a esse. Por favor, me ajude a conectar com o coração dela, porque quando estou perto, eu sempre escuto ele dizer baixinho: Carry Me!". O cérebro ficou sem enteder aquela mensagem.

Desse dia em diante, durante todas as horas do dia e da noite, o coração tem mandado a mesma frase para o cérebro, dizendo: "Carry Me!" e ele, o cérebro, ainda não entendeu a mensagem...

Bom, apesar do cérebro ter tentado, várias vezes, convencer o coração para que ele pensasse mais no que estava dizendo e fazendo, que era muito cedo pra isso, que talvez não fosse o momento certo, em outra oportunidade seria melhor, etc, etc, e etc, não adiantou: ele foi irredutível e, o que é pior, convenceu o cérebro a entrar nessa também. (Parece que ele disse ao cérebro que, se não colaborasse, iria diminuir o envio de seu suprimento diário de sangue para ele. Eu, às vezes, acho esse coração meio prepotente, metidão...) "- Epa!!! O que é tá falando de mim aí?"

Num certo dia, o cérebro pegou duro com o coração. Disse que ele tinha tido várias oportunidades de chegar mais perto, de conversar, de conhecer melhor o coração dela. Inclusive, uma vez, teve a noite inteira prá isso! Foi quando o coração respondeu: "Eu fiquei na minha por sua causa. Você disse que tava cheio de dúvida, inseguro, tava evitando tudo. Coração também é amigo, sabia? Por mim, eu tinha enfrentado a parada! Mas, agora, vou assumir as rédeas e vamos partir prá frente."

O cérebro conta que tem tentado, na medida do possível, ajudar o coração a se comunicar com o coração dela, mas parece que ele anda meio ocupado no momento, talvez por um tempo indeterminado... E o coração, insistente, diz: "Deixa um recado lá e avisa que, assim que o coração dela voltar a dar sinal de livre, quero recuperar o tempo perdido e mandar uma mensagem definitiva para ele: - Vamos juntar as nossas escovas de dente?". (Tá maluco, esse coração!)

Pra falar a verdade, acho que dois corações têm coisas muito mais importantes a dizer e que vão além de um simples "juntar escovas de dente". Mas isso ficará para o dia em que eles, finalmente, estiverem em sintonia. Eles vão ter muito que conversar mesmo. E, além do mais, o coração vai precisar de escova de dentes prá que? "- Olha!!!" Não, tudo bem, eu retiro o que disse. Eu sei que é no sentido figurado, que significa união, parceria, cumplicidade... (Qualquer dia desses eu faço um transplante e boto um coração de monge tibetano...) "- Opa!!!" Nada, não. Só tava pensando alto...

Recentemente, o coração mandou comprar um fone de ouvido para o cérebro e os dois passam o dia ouvindo músicas do Backstreet Boys. O cérebro foi visto, algumas vezes, tentando ligar para o setor de transpantes do HC de São Paulo. O coração quis saber o que era e ele desconversou, disse que não era nada, apenas exames de rotina, que lá tinha um médico muito bom, especialista em "problemas" do coração...

Ora, vá entender esses dois! Quanto a mim, descobri que posso virar um boneco de cera, em Londres. Daí, não vou mais precisar nem de um cérebro, nem de um coração.

Assinado:

O coração, o cérebro e eu (no papel do digitador).
Cuiabá - 28/08/2011

N.A: Qualquer semelhança com fatos ou pessoas terá sido mera coincidência.

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